Tumor cerebral: pseudorresposta e pseudoprogressão com o estudo de ressonância magnética

03/04/2024 12:00

Diferenciar pseudorresposta de pseudoprogressão em pacientes com tumores cerebrais, especialmente aqueles em tratamento com terapias antiangiogênicas ou após radioterapia, é um desafio clínico importante. Ambos os fenômenos podem ser mal interpretados nas avaliações de imagem, levando a decisões terapêuticas inadequadas. A ressonância magnética (RM) é a ferramenta de imagem mais utilizada para monitorar essas alterações, mas requer a aplicação de técnicas específicas e a interpretação cuidadosa dos resultados.

Pseudoprogressão

  • Definição: A pseudoprogressão é um aumento aparente no tamanho do tumor ou no realce por contraste observado nas imagens de RM, que ocorre após o tratamento, especialmente a radioterapia, sem representar uma verdadeira progressão da doença. Esse fenômeno é atribuído a alterações inflamatórias e edema.
  • Características de Imagem: Na RM, a pseudoprogressão pode se manifestar como um aumento no realce por contraste ou no volume do tumor dentro dos primeiros meses após o tratamento. No entanto, essas alterações não refletem o crescimento tumoral, mas sim a resposta inflamatória.
  • Técnicas de RM Relevantes: A sequência de difusão pode ser útil, mas não é definitiva para diferenciar pseudoprogressão. Sequências avançadas como espectroscopia por RM e imagens de perfusão podem oferecer informações adicionais. A espectroscopia pode mostrar um perfil metabólico não típico de tumor ativo, enquanto a perfusão pode mostrar uma redução no volume sanguíneo cerebral (rCBV) nas áreas de pseudoprogressão.

    Detalhando... Vamos explorar as características observadas nessas técnicas no contexto de pseudoprogressão tumoral:

    Difusão por Ressonância Magnética (RM)

    • Princípio: A difusão ponderada (DWI) e o coeficiente de difusão aparente (ADC) medem o movimento das moléculas de água nos tecidos. Lesões com alta celularidade, como tumores ativos, restringem a difusão da água, resultando em alta sinalização em DWI e baixos valores de ADC.
    • Pseudoprogressão: Na pseudoprogressão, pode haver um ligeiro aumento na restrição da difusão devido ao edema citotóxico ou à inflamação, mas geralmente menos pronunciado do que seria esperado em uma progressão tumoral verdadeira. Os valores de ADC podem ser variáveis, mas frequentemente não são tão baixos quanto os observados em tecido tumoral de alta celularidade.

    Perfusão por Ressonância Magnética (RM)

    • Princípio: A perfusão por RM avalia o fluxo sanguíneo no tecido cerebral, fornecendo informações sobre a vascularização do tumor. Isso é frequentemente realizado medindo o volume sanguíneo cerebral relativo (rCBV).
    • Pseudoprogressão: Em casos de pseudoprogressão, o rCBV pode ser normal ou levemente elevado nas áreas de alteração, refletindo a inflamação e o aumento da permeabilidade vascular, mas geralmente não tão elevado quanto seria observado em uma recorrência tumoral ativa. A pseudoprogressão é caracterizada por alterações inflamatórias pós-tratamento, que podem aumentar ligeiramente o rCBV, mas sem os picos significativos de rCBV associados ao crescimento tumoral neovascular.

    Espectroscopia por Ressonância Magnética (RM)

    • Princípio: A espectroscopia por RM fornece um perfil metabólico do tecido cerebral, identificando a concentração de vários metabólitos, como colina (Cho), N-acetilaspartato (NAA), lactato e lipídios.
    • Pseudoprogressão: Na pseudoprogressão, o perfil metabólico pode mostrar um aumento leve a moderado em Cho devido à inflamação, mas geralmente não apresenta o padrão elevado de Cho:NAA observado em tumores ativos. Lactato e lipídios podem estar presentes, refletindo a necrose ou o dano celular, mas a ausência de um aumento significativo na razão Cho:NAA ajuda a diferenciar a pseudoprogressão da progressão tumoral.

    Em resumo, a combinação de DWI, perfusão e espectroscopia por RM no contexto de pseudoprogressão tumoral pode ajudar a diferenciar entre os efeitos pós-tratamento e a recorrência do tumor. A pseudoprogressão tende a mostrar uma restrição de difusão menos pronunciada, perfusão levemente aumentada sem os picos de rCBV associados a tumores ativos, e um perfil metabólico que não é característico de alta atividade tumoral. A interpretação dessas técnicas avançadas de RM deve ser feita em conjunto com a avaliação clínica do paciente e outros achados de imagem.



Pseudorresposta

  • Definição: A pseudorresposta é observada como uma redução no realce por contraste e no volume do tumor nas imagens de RM em pacientes tratados com terapias antiangiogênicas. Este fenômeno não reflete uma diminuição real na massa tumoral, mas sim uma redução na vascularização do tumor devido ao efeito da terapia.
  • Características de Imagem: A RM pode mostrar uma diminuição no realce por contraste e no edema associado, sugerindo erroneamente uma resposta positiva ao tratamento.
  • Técnicas de RM Relevantes: Assim como na pseudoprogressão, a espectroscopia por RM e as imagens de perfusão são técnicas valiosas. A perfusão por RM pode revelar que, apesar da redução no realce por contraste, o rCBV pode permanecer elevado nas áreas de pseudorresposta, indicando a presença de tecido tumoral ativo.

Resumo:

A pseudoresposta tumoral refere-se à aparência radiológica de melhora ou estabilização de uma lesão tumoral após tratamento, especialmente com agentes antiangiogênicos, que não reflete uma verdadeira resposta terapêutica no nível celular. Esse fenômeno pode ser observado em exames de ressonância magnética (RM) que incluem sequências de difusão, perfusão e espectroscopia. Cada uma dessas técnicas fornece informações distintas sobre a biologia do tumor e a resposta ao tratamento.

Difusão

  • Características Observadas: Na sequência de difusão, a pseudoresposta pode ser caracterizada por uma alteração transitória na aparência da lesão, que pode mostrar uma diminuição na restrição de difusão. Isso pode ser interpretado erroneamente como uma melhora, mas na verdade pode refletir mudanças na densidade celular, edema ou necrose, ao invés de uma redução no volume tumoral.

Perfusão

  • Características Observadas: Na RM de perfusão, a pseudoresposta é frequentemente associada a uma redução no volume sanguíneo cerebral relativo (rCBV) ou na permeabilidade capilar, devido ao efeito dos agentes antiangiogênicos. Essa redução na perfusão pode parecer uma resposta positiva ao tratamento, mas não necessariamente indica uma diminuição na atividade tumoral. É importante notar que, enquanto a perfusão pode diminuir, isso não exclui a possibilidade de progressão tumoral em outras áreas ou no nível celular.

Espectroscopia

  • Características Observadas: A espectroscopia por RM fornece informações metabólicas sobre o tecido cerebral e tumoral. Na pseudoresposta, pode haver alterações nos picos de metabólitos, como uma redução temporária nos níveis de colina, que é frequentemente associada à atividade tumoral. No entanto, essas mudanças podem não refletir uma verdadeira diminuição na carga tumoral. A presença contínua ou o retorno de alterações metabólicas anormais podem indicar atividade tumoral subjacente, apesar das aparências enganosas nas imagens.

Considerações Importantes

  • Interpretação Cautelosa: É crucial interpretar os achados de difusão, perfusão e espectroscopia em conjunto com o contexto clínico do paciente, incluindo o tipo de tratamento recebido e a evolução clínica. A pseudoresposta pode mascarar a verdadeira progressão tumoral, o que requer uma avaliação cuidadosa para evitar atrasos no ajuste do plano de tratamento.
  • Avaliação Combinada: A combinação de informações de difusão, perfusão e espectroscopia, juntamente com outras sequências de RM e dados clínicos, oferece a melhor chance de interpretar corretamente a resposta do tumor ao tratamento.

Em resumo, a pseudoresposta tumoral é um desafio diagnóstico que requer uma abordagem multidisciplinar e o uso combinado de várias técnicas de imagem para uma avaliação precisa da resposta ao tratamento.

 

Estratégias para Diferenciação

  1. Avaliação Temporal: Monitorar as mudanças ao longo do tempo pode ajudar a diferenciar entre pseudoprogressão e progressão verdadeira, pois a pseudoprogressão geralmente se estabiliza ou melhora sem alteração no tratamento.
  2. Imagem Multimodal: Combinar sequências convencionais de RM com técnicas avançadas como perfusão, difusão e espectroscopia pode fornecer um quadro mais completo, ajudando a diferenciar pseudoprogressão de progressão tumoral e pseudorresposta de resposta verdadeira.
  3. Correlação Clínica: A interpretação das imagens deve ser feita em conjunto com a avaliação clínica do paciente, incluindo sintomas e marcadores biológicos, se disponíveis.

Em resumo, a diferenciação entre pseudoprogressão e pseudorresposta é complexa e depende do uso criterioso de técnicas avançadas de RM, avaliação temporal das imagens e correlação com o quadro clínico do paciente.